sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Seca do Rio Negro prejuca 4 mil famílias ribeirinhas no Amazonas

Manaus (Amazonas) - O nível do rio Negro, um dos maiores afluentes do rio Amazonas e que banha a capital (Manaus), está a apenas 5,03 m da maior seca já registrada na história. Nesta sexta-feira, chegou à marca de 18,67 m. E se continuar baixando na mesma média diária, deve atingir a cota recorde em 20 dias. "Faz 7 dias que o rio (Negro) mantém uma média de 22 cm de baixa diária", diz o chefe do setor de hidrologia do Porto de Manaus, engenheiro Walderino Pereira.

A maior seca da história aconteceu em 1963, quando o rio chegou à cota de 13,64 m. O pior é que a tendência é de que o nível siga diminuindo até meados de novembro segundo o último boletim do Sistema de Proteção da Amazônia. A Defesa Civil do Amazonas confirmou que 11 municípios já anunciaram situação de emergência e enviaram pedidos de homologação oficial dos decretos para o governo do Estado.

A situação é ainda mais complicada no interior. Como não há estradas, os caminhos por água secaram e se tornaram um obstáculo quase intransponível para o caboclo levar para a produção agrícola a regiões onde o rio não secou. O rio Solimões é o que tem maior quantidade de municípios do entorno em situação preocupante. São sete em situação de emergência, entre os onze que já pediram ajuda oficialmente ao governo do Estado.

Pelo menos 3,8 mil famílias ribeirinhas de Manaus foram atingidas diretamente pela seca. A maioria formada por produtores rurais que não têm como escoar a produção agrícola. Na orla de Manaus, vários barcos e casas flutuantes que não foram removidos a tempo acabaram encalhando.

Não há dados oficiais sobre os prejuízos no setor primário, mas municípios da região do médio rio Solimões já anunciaram queda na produção de farinha, principal produto local. Segundo o prefeito de Uarini, Francisco Togo, a queda foi de aproximadamente 50%, o que deve afetar o preço do produto em Manaus.

A Defesa Civil estadual informou também que, até agora, nenhuma prefeitura registrou falta de remédios ou alimentos. Mas vários municípios já enfrentam problemas de atraso na chegada de combustível. Todo o óleo diesel que é queimado nas usinas geradoras de energia no interior é transportado de balsa. Com a seca, a navegação fica prejudicada e as grandes embarcações têm de diminuir a velocidade aumentando o tempo de viagem.

Por enquanto, especialistas em clima e tempo dizem que é cedo para prever as dimensões da seca deste ano. "A situação ainda deve continuar em degradação por mais alguns dias, mas no Peru o quadro de reversão já começou. Ou seja, voltou a chover e os rios retomaram a subida. Como leva tempo para isso chegar ao Brasil, eis a razão para precaução e para mantermos o atual quadro de alerta", explica o professor e pesquisador Naziano Filizola, do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Amazonas.

Filizola se refere à seca que atingiu o Peru, nos afluentes do rio Solimões (Brasil) além da fronteira. O país vizinho, que também faz parte da grande bacia Amazônica, passa pela pior vazante dos últimos 40 anos. Diversos municípios ficaram isolados e tiveram problemas inclusive de abastecimento de produtos de primeira necessidade.

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